3.1.08

para a Sunshine






Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,

Para quem tudo é novo

E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,

Ele sabe que a vida

Passa por ele e tanto

Corta à flor como a ele

De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,

Como a uma voz chorando

O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,

E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda

O não molhe tão cedo.

19/06/1914
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Ricardo Reis

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