Regresso

Debalde procuramos o sentido da vida.
De balde, tomam banhos de sol os que o conhecem e não se ralam com isso.

É hoje o meu último dia de "férias da Páscoa" (agora chamadas "interrupção lectiva", porque pode sempre haver serviço...). Interrompi o atestado e regressarei na segunda feira à Escola. Ainda não me sinto exactamente preparada, mas pedirei que me "poupem" um pouco, pelo menos a escrever actas e coisas assim; de qualquer modo, em casa já fiz o que tinha a fazer e os dias têm sido de repouso. Basicamente, sigo os horários dos gatos, embora (por muito que me esforce) não consiga dormir assim TANTO. De qualquer modo, está a fazer-me bem, sobretudo a parte de acordar cedo, que será regra a partir já de Domingo. A medicação continuará mais algum tempo, depois inicio o "desmame" - espero eu que a partir de meados de Abril.

Regresso também de um buraco no tempo que, felizmente, funciona de um modo bastante elástico. Como não caí com demasiada força nem demasiado desamparada, fui "devolvida" para um lugar bem perto da superfície, que não está a ser difícil de escalar; a Primavera, os seus cheiros e as suas flores, também ajudam à subida, mesmo tendo de ser eu a entalhar os degraus e colocar corrimão à medida que subo. Estou feita uma mineira ao contrário, buscando - e encontrando - o ouro da luz do sol.

Ando novamente com alegria, e é neste estado de espírito que cuido das plantas e semeio outras. Também já chegaram as plantas de Nêveda e os pézinhos de Arruda; oferecerei um à minha vizinha do lado, ela vai ficar contente porque tinha uma e morreu.

Tenho conhecido gente interessante e interessada, no "mundo dos gatos". É, sem dúvida, uma realidade paralela onde gosto de estar, com pessoas ainda mais doidas por bicharada do que eu - e isso faz-me sentir, além de aceite, mentalmente mais "sã" (seja lá isso o que for, digam o que disserem e leve o diabo a crítica alheia, quem me critica não me governa...).

Os amigos regressam quase todos, mais depressa uns, mais devagar outros, e o ritmo do bater da vida suaviza-se, os atritos dissipando-se entre o nascer dos dias e das noites, cada vez mais curtas (que bom!).

Há resíduos de uma existência anterior, mas é como se tivesse renascido (a Páscoa é tempo apropriado para estes milagres de renascimentos.) e tivesse uma vaga recordação de uma outra vida, como se tivesse acordado de um sonho semi-adormecido, como naquela altura em que estamos quase a dormir e sonhamos, mas a parte semi-acordada percepciona a "realidade" através dos sentidos. Houve alterações de luz, de cor, de sabor, de tudo quanto pode ser percebido. Mas, subtilmente, gerou-se uma compreensão da essência, do ponto imóvel que tudo faz mover. O que é percebido pelos sentidos é a ilusão, a grande alegoria da vida que se repete ciclica e quotidianamente, com variação de circunstâncias, todas elas pouco relevantes. Pequenas distracções que podemos apreciar enquanto caminhamos de regresso a casa, mas não sendo elas mesmas o regresso. São cenários, filmes que vão sendo projectados pelo caminho. Acreditar que a realidade que percebemos todos mais ou menos da mesma forma, e realidade é apenas o que pode ser convertido em facto, materializável, é o mesmo que acreditar que fazemos parte do filme a que assistimos.

Paz e tranquilidade - há lá dinheiro que compre isto! :)