9.4.06

A Ilha do Castelo

Agrada-me este lugar. Cheira bem, e o fosso não foi escavado à volta do Castelo. Nem sequer é um verdadeiro fosso. Acontece que o Castelo foi construído numa ilha que nasceu junto à nascente de um rio; e divide-o em dois, para logo depois se voltar a unir num turbilhão de águas. A ilha dissolve-se numa cascata na extremidade do poente; e, para lá do arco-íris residente, estende-se uma lagoa de águas verdes e transparentes. Na ponta leste, arredondada, o portão faz de ponte como uma língua arqueada para fora da boca, tocando a margem suave um pouco acima da nascente do rio.

Claro que se pode chegar ao Castelo de barco. Mas, como nas casas, nos ninhos, colmeias ou nas tocas, é pela entrada que se entra.

Aquela ponte (que ao recolher-se é um portão) parece-se - já o referi - absurdamente com uma língua. Faz impressão caminhar sobre ela, é esponjosa, ondulante e escorregadia. Tinha percorrido pouco mais de meio caminho quando, subita e suavemente, e como uma língua, se começou a enrolar e deslizei, desequilibrada, por ela abaixo. Não estou certa de que não sonhei; mas, imediatamente antes de caír ao comprido e o portão se fechar - agora firme e rígido - atrás de mim, vi um palhaço apregoando, com as mãos em concha:

- É entrar, que não custa nada! À saída é que se paga!