30.10.07

Página 161, 5ª linha




O desafio exige o cumprimento dos seguintes cinco passos:
1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro;
2. Abra o livro na página 161;
3. Na referida página procurar a 5.ª frase completa;
4. Transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada;
5. Aumentar, de forma exponencial, a improdutividade, fazendo passar o desafio a mais 5 bloggers à escolha.


Que plantel de prisioneiros
Tendo as unhas arrancadas
Quantos beijos derradeiros
Quantos mortos nas estradas!




Vinícius de Moraes, Para Viver Um Grande Amor (poema "UM BEIJO")
Companhia das Letras, 1991


Eis a resposta ao desafio da Ana.

Passo a batata quente ao Greg, ao Jacaré, ao Ricardo Kelmer e ao duo Manuel e Maria.

27.10.07

OUTONO


Estamos próximos do Samhein, ou Halloween, ou Dia de Todos os Santos. O Outono só se mostra entre o pôr e o nascer do sol, durante o dia o sol ainda faz calor, os vasos ainda florescem (tenho malvas lindíssimas na varanda!), os tomateiros finalmente frutificaram (dois tomates: um nascido numa jarra, com girassois já secos, a rama dos tomateiros que fizeram greve todo o verão a enfeitar - até que uma criou raizes....; outro, no vasinho de areia e erva para a gata da varanda do quarto, que ela não usa - foi transplantado meio morto e renasceu, o tomate é grande, rijinho e está a começar a avermelhar).

Estive muito tempo ausente; agora, que os dias encurtam (é hoje a mudança da hora), é tempo de recolhimento, de me despir de folhas douradas, carmim, castanhas, amarelas, laranja - é preciso que as folhas caiam para novas nascerem na Primavera. Preparar o Inverno, é este o tempo, e ainda que o Outono esteja suave e seco, a Natureza segue seu curso, e eu com ela. Desconfio que as estações mudaram seu tempo; o Outono começa agora em Outubro, na última lua cheia; depois vem o solstício de Inverno, mas o Inverno só começa em Janeiro, as estrelas e a lua brilhando no gelo, resplandecendo no ar frio. Depois, A Primavera. Em Abril, claro. Sob o signo de Touro, faz muito mais sentido, assim como o Outono faz sentido começando em Escorpião. O Inverno rege-se por Capricórnio, o deus Pan, as celebrações dos faunos e dos sátiros, antecedidos pelos centauros e sagitários. Outono e Inverno, meses da Fauna, Primavera e Verão, meses da Flora. Yang e Yin, masculino e feminino equlibrando-se. O Inverno é do Fogo (o Sol da Meia Noite, o sol espiritual), a Primavera da Terra, o Verão da Água, o Outono do Ar. Tudo em perfeito equilíbrio.

Claro que isto são teorias minhas, mas tenho feito perguntas por aí e há quem tenha ficado a pensar nisto; nem tudo está perdido.

Como celebração da entrada no Outono, decidi livrar-me da dependência do tabaco. Não sei se conseguirei deixar de fumar de todo, mas tudo farei para fumar segundo a minha vontade, e apagando o fogo do desejo com água. Isso mesmo. Sempre que o desejo de um cigarro vier, bebo umas goladas de água. Esta substituição faz todo o sentido, porque vivo desidratada, não chego a beber meio litro de água por dia. Então a pele fica seca, sensível, as veias perdem ainda mais elasticidade (não bastava o estrogénio que faz de mim mais mulher do que homem...), ainda na quinta feira, noite de luar, tive um derrame na barriga da perna só por ter a gatinha deitada no meu colo. Beberei mais água, limparei o meu corpo dos venenos, hidratarei a minha primeira pele, serei completamente água: de charco de lama passarei à água azul escura dos abismos oceânicos. Escrevo isto aqui também para ter vergonha na cara, me comprometer perante quem me ler e isso ajudará a comprometer-me perante mim mesma, a combater a autocondescendência, a ter consciência das desculpas que usarei para retomar o hábito. Não posso ser completamente livre enquanto não acabar com as dependências que eu própria criei; e. como criadora, tenho o direito e o dever de acabar com isso, usando a táctica divina. Como o Deus da mitologia Judaico Cristã, como os Deuses de todas as outras mitologias religiosas: em todas existe uma história de Dilúvio. Constroi-se uma arca, sobe-se a uma palmeira, vive-se como se pode até as águas descerem. É uma oportunidade para começar tudo de novo.

Seguirei, portanto, o ritmo das estações, anunciado pelas árvores. Sei que não é fácil: o nosso sistema económico não contempla os ritmos naturais. Mas aqui, no Castelo de Xavier, existem Reinos, Condados, Ducados, Feudos, universos paralelos, oblíquos e perpendiculares ... Macrocosmos dentro de microcosmos, como uma espiral que desenha uma ampulheta.

Feliz Outono!